sábado, 5 de setembro de 2009

Paraguay Parte VI ''sorriso de boba alegre estampado na cara''

‘’Puta que pariu!’’. A expressão mau educada foi a única que conseguiu escapulir de minha boca quando entrei em contato com uma das sete maravilhas naturais do mundo: as cataratas do Iguaçu. A paisagem parece tirada de um descanso de tela exagerado, feito no photoshop, com todos os recursos para uma visão paradisíaca, sobrenatural. O passeio pelo parque das cataratas impressiona, deixa as pernas bambas, o queixo mole. Quanto mais você caminha na trilha, achando que nada mais irá te assombrar, aparece na sua frente mais uma porção de quedas d’água maravilhosas, para compor a paisagem de forma mais e mais harmônica. O barulho da força das cataratas dá uma paz, uma serenidade, uma coisa diferente de tudo que eu já havia experimentado. O calor que estava fazendo, no céu absurdamente azul, sem nenhuma nuvem, só ajudou pra deixar tudo mais cinematográfico. Existe no meio do parque um corredor que te leva bem próximo a algumas cachoeiras, e de lá podemos sentir o sopro refrescante das águas. Fiquei ensopada, mas com um sorriso de boba alegre estampado na cara. Tudo lindo. Muuuito lindo. Uma apelação dos Deuses de tirar o fôlego. O dia já havia começado muito bem, com compras em Ciudad del Este, a capital da quinquilharia barata da América do Sul. Lá, meus perfumes prediletos , que eu chego a pagar 200 reais por míseros 50 ml, custam 80 reais. Desejo incontrolável de fazer a festa, levar a loja toda! O Rô, meu primo querido e companheiro de viagem, comprou um HD externo num shopping gigante de produtos de informática. Nesse shopping eu lembrava do meu pai o tempo todo. Meu pai sempre foi um amante e entusiasta de novas tecnologias. Ficava imaginando ele nesse centro, chamdo Lai Lai, com tudo escandalosamente barato e de última ponta. Dá até vontade de virar sacoleira, confesso. O mais estranho de Ciudad del Este é que, fora desse caos generalizado que é o centro de compras, a fronteira e a ponte da amizade, o resto da cidade é muito tranquilo. Não só tranquilo como também bonito, arborizado, organizado,com vias sinalizadas, cheio de praças. Uma cidade que até engana que é primeiro mundo, tipo europona. Essa viagem de bate-e-volta até Foz foi muito interessante. Eu e o Rô fizemos todo um estudo antropológico do transporte rodoviário paraguayo. Chegamos no terminal em Asunción calculando pegar o ônibus das 3 horas da madrugada. Contudo, apareceu um Zé, do nada, e nos ofereceu saída imediata, em um ônibus novo, com o mesmo preço das outras viações. A proposta nos pareceu uma boa idéia e aceitamos. Ao embarcar, percebo a furada. O ônibus é super velho, meio caindo aos pedaços e a poltrona inclina, mas depende do meu peso apoiado para se manter inclinada. Ou seja, deito e ela deita. Levanto e ela volta pro lugar. Um ''siga o mestre'' irritante. Até aí tudo bem, pequeno detalhe. O busão entra em movimento e nada da luz apagar. O ar condicionado parece estar no topo de sua capacidade, no máximo. Faz muito frio e começa a ficar meio incômodo. O motorista é um sem noção, que começa a ouvir música alta, impedindo que eu possa sequer tentar dormir. Quando eu acreditava que nada mais podia piorar vem a demora do trajeto. O ônibus pára de quinze em quinze minutos pra pegar jecas no meio do caminho e enche. Não só as poltronas numeradas, mas os corredores e qualquer centímetro de espaço que estava dando sopa. Gente, gente, mais gente que não acaba mais. O pesadelo dentro do coletivo durou seis horas. Frio, luz acesa, sem poder dormir ouvindo a cumbia do motorista com mais oitenta mil pessoas se esmagando. O mais legal é que esse transporte do mau foi parado pela polícia e liberado (com obviamente uma propinazinha básica) em menos de um minuto. Vergonha. A volta já foi bem menos traumática. Não tinha ar condicionado, nem cumbia, muito menos luz acesa. Parou menos que o primeiro e foi lotado apenas durante poucas horas. Na verdade, não reparei porque estava exausta, e vim dormindo. Mas, para não decepcionar os meus conceitos pré-existentes sobre o serviço rodoviário paraguayo, o veículo quebrou na entrada de Asunción. Um viva para a aventura que é viajar no país. Prometo nunca mais reclamar dos ônibus rodoviários brasileiros.

Normalmente voltamos da faculdade juntas. O caminho é longo e é bom quando temos companhia... Conversando o tempo passa bem mais rápido. Estávamos voltando eu, Vanessa e Ju quando um gatinho atravessou a rua correndo. Ele era do tipo vaquinha, preto e branco com cara de carente. Chegou super simpático, olhou pra gente e ficou todo animado com nosso carinho. Irresistível não levá-lo pra casa. No caminho pensávamos o que faríamos com o novo morador. Várias idéias passaram pelas nossas cabeças: mantê-lo escondido durante todos os seis meses; colocá-lo em uma caixa,enfeitá-lo com um lacinho e dar de presente à Cáti; chegar em casa e dizer a máxima ‘’ele nos seguiu até aqui’’ e outras, cada vez menos brilhantes e mais engraçadinhas. Enquanto não criávamos uma boa estratégia, ficamos com o Sr.Michi Morosini escondido (Michi é uma forma de dizer gatinho em espanhol e Morosini é o nome do Secretário da UNA, que atua como nosso super herói por aqui). O esconde-esconde durou oito dias, até que o gato ingrato fugiu da nossa kitnet e foi pro quintal...somente para ser descoberto. Cáti então nos deu um ultimato para encontrarmos um lar pro bichinho, já que temia que ele comesse seus papagaios analfabetos ou infernizasse a vida de seus piriquitos sexopatas. O ultimato funcionou, colocou a gente pra procurar casa pro Morosini. Traçamos um plano de ação: pregar cartazes de ‘’adoptame’’ nas ruas e fazer contatos com ONGs e grupos de apoio aos animais abandonados. A procura funcionou. Descobrimos que tinha uma feira de adoção num domingo a tarde num estacionamento de shopping e levamos o nosso gatinho. Para nossa surpresa, a veterinária responsável pela feira atestou que o Michi na verdade era a Michi. O gatinho mudou de sexo, virou menina. Durante a feira ficamos super nervosas, esperando o resultado da empreitada. Dávamos voltas e voltas no shopping pensando na bichinha na gaiola,esperando alguém se encantar com sua carinha de anjo. Pobrezinha. Felizmente e finalmente, Srta.Michi Morosini foi adotada por uma família de bom coração. A nossa saga felina havia terminado. Com um final feliz!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Paraguay Parte V ''a gente sofre mas a gente ri''

Acho muito engraçado quando lembro das coisas que ouvi a respeito do Paraguay ao sair do Brasil. A maioria eram piadinhas bobas, mas que escondem preconceitos sérios, idéias distorcidas sobre um país vizinho vazio, sem história, sem cultura, sem dinheiro, sem poder, sem cérebro. Uma nação onde tudo se resume a muamba, contrabando e falsificação. É natural, confesso que também carregava muitos preconceitos e que sabia quase nada sobre a história Paraguaya. Não sabia, por exemplo, que a ditadura do general Alfredo Strossner foi a mais longa da América Latina, punindo o país durante trinta e cinco anos. A ciudad del Leste, da ponte da amizade (da parte onde parte dos preconceitos se justifica), se chamava Puerto de Strossner até sua queda em 1989, qundo houve um golpe de estado para retirar o ditador do poder, liderado pelo também militar Andrés Rodríguez. Strossner recebeu exílio em Brasília onde viveu até 2006, quando morreu doente. O partido colorado, de extrema direita, deitou e rolou no poder por mais de sessenta anos. Assim, a eleição de Fernando Lugo representa aqui a primeira grande mudança política no país. Tá que Lugo está envolvido em escândalos sexuais, coisa e tal, mas ainda assim é uma figura forte, com um carimbo de ‘’democracia’’ estampado na testa. Isso me lembra uma piadinha paraguaya muito boa. Na sua campanha presidencial, havia um jingle que dizia que Lugo tem coração. Depois das denúncias de que o bispo havia engravidado moças, o povo mudou o jingle para ‘’Lugaucho (o mesmo que mulherengo) tiene corazón, pero no usa condón!’’ (tem coração, mas não usa camisinha).É aquela história...a gente sofre mas a gente ri. Eu achei estranho o Brasil ter dado exílio político ao Strossner. Na verdade, eu acho estranho como que os paraguayos não odeiam o Brasil. Fora o genocídio na desastrosa guerra da tríplice aliança (que nós chamamos de guerra do Paraguay), o Brasil mantém até hoje o tratado de Itaipu, herança dos tempos da ditadura que é um tanto quanto injusta. Apesar de ser uma hidrelétrica considerada binacional, o Paraguay só faz uso de duas turbinas e é obrigado a vender o seu excedente ao Brasil a preço de banana, isso até 2023, pelo menos. Enquanto a gente tem o costume de meter o pau nos paraguayos, eles, que têm motivos para nos detestar, nos adoram e só pedem por justiça, nada mais. Quando discuto essas questões com o pessoal daqui, juro que dá vergonha de já ter tido uma cabeça tão pequena sobre esse país, sobre esse povo. Grande parte dessas histórias que eu contei aqui eu vi num documentário excepcional, chamado ‘’Paraguay, mi tierra olvidada’’ (Paraguay, minha terra esquecida). Aliás, essa semana está tendo aqui o festidoc, um festival de documentário sensacional, mas que infelizmente coicide com meus horários de aula, então quase não tá dando preu aproveitar. Assisti também ‘’La ciudad de los fotógrafos’’, um filme chileno sobre os fotógrafos independentes na ditadura de Pinochet; ‘’La otra copa’’, argentino, muito divertido, sobre a copa do mundo de moradores de rua (que eu nem sabia que existia) e ‘’Vengo de un avión que cayó en las montañas’’, particularmente, o meu favorito. O documentário uruguayo/francês é uma coletânea de depoimentos de sobreviventes ao acidente aéreo, aquele que caiu nos Andes em 72. Os relatos são impressionantes, fiquei muito emocionada. Olha que eu sou difícil de fazer chorar em filme. Tem uma hora que eles estão descrevendo como que organizavam expedições, com o intuito de encontrar ajuda e então um dos caras narra que o único objetivo dele era andar na neve, dormir e continuar andando no dia seguinte. A noite era extremamente gelada então ele só conseguia dormir no meio do nada porque a exaustão o obrigava. Acordava com o sol batendo em seu rosto. É muito bonito, ele descreve esse sol como uma mão de Deus, que fazia com que ele tivesse esperança, tivesse paz, por alguns segundos. É incrível como o cara nessa situação horrível consegue se alegrar, se apoiando numa fé inventada por ele, para ele. A sobrevivência inverossímel dessas pessoas, durante 72 dias no meio do nada, comendo pasta de dente como sobremesa, me fez me sentir minúscula, uma gotinha d’água na tempestade. Me fez olhar para muitas coisas que eu dou um valor gigante de outra forma, mais pé no chão. Esse documentário é incrível...Eu recomendo.

Aqui em Asunción os cassinos e bingos são legais. Eu nunca havia entrado em um cassino e assumo que fiquei me sentindo bem hollywoodiana no ambiente. Quem nos levou foi o Guille, mi hermanito, primeiro secretário e guia de baladas e perdições asuncionenses. Estávamos procurando um bar pra beber na cidade, e em todos que passávamos estavam meio as traças, com pouquíssimas pessoas. Foi quando o Gui sugeriu tomar uma cerveja num cassino, pra gente conhecer. Lá, ao contrário de todos os outros bares, estava bem cheio. Eu achei muito legal. Além das diversas máquinas de caça-níquel, haviam mesas para jogos de cartas (blackjack) e roletas. Os funcionários usavam aqueles uniformes que a gente vê em filme e tudo era meio avermelhado. Ah! E não tem janelas, pras pessoas perderem a noção de tempo (entra dia, sai dia e o pobrezinho tá lá, apostando a casa, o carro, a mãe, o cachorro). Outra coisa interessante é que não é permitido tirar fotos, pra garantir a privacidade dos apostadores. Eu tirei uma foto, mas bem rapidinho, só pra ser xingada e ter pelo menos um registro. Na parte mais distante das mesas de apostas tem um restaurante e um bar com palco, onde ficamos. Estava tendo um show de um trio que tocava umas milongas, cumbias e tangos. Muito bacana. A cerveja aqui parece até que é tabelada. Em todo lugar que vamos pagamos 9000 guaranis, independende do grau de requinte da balada, do bar ou do pub. Claro que se formos comprar num mercado ou um supermercado é bem mais barato, mas fora é sempre o mesmo preço.

Existe aqui perto uma cidadezinha bem interiorana que se chama Areguá. Sábado nós fomos conhecê-la, pois estava rolando a feira anual do morango. Era uma feirinha muito bacana, com barraquinhas em fila indiana, no meio da estrada,vendendo morangos (obviamente) e uma porção de derivados: morango com chantilli, torta de morango, mousse de morango, bolo de morango, bombom de morango, chupa-chupa de morango, licor de morango, sorvete de morango, suco de morango, marmelada de morango, alfajor de morango e geléia de morango. Já deu pra perceber que maravilha que foi a brincadeira. Tudo muito delicioso, absurdamente bem feito e barato. Saimos de lá passando mal de tanto morango que consumimos. Tivemos a impressão que movimentamos bruscamente a economia da feirinha, pois ficamos numa gastação incrível, experimentando de tudo um pouco. Só o suco eu repeti três vezes...hummmm, delícia! Tomara que sábado que vem apareça uma feira do limão,do figo ou do maracujá.

sábado, 15 de agosto de 2009

Paraguay Parte IV ''boquiabertas com tudo''

A distância entre a minha casa e a faculdade é de vinte e duas quadras. A primeira vez que fiz essa contagem, no mapa, fiquei meio assustada, desanimada de fazer o percurso andando. A idéia de ir a pé veio da necessidade básica de fazer o dinheiro render, visto que a bolsa que ganho aqui é miserável, deprimente. Confesso que depois da primeira vez, que é sempre muito delicada, depois fica bem fácil fazer de novo e de novo. O caminho é bem residencial, com casas de muro baixinho, bem fáceis de assaltar e cachorros deitados nas soleiras. Toda casa que se preze merece um cachorro. Assim, quase todas as casas tem um ou dois exemplares, que me acompanham com o olhar enquanto eu passo. Além de casas, tem alguns butecos e mercadinhos. O meu favorito fica bem no início do percurso porque ao invés de ter um cachorro na entrada, tem um gatinho-vaquinha muito simpático, que deixa eu fazer carinho e matar um pouquinho de saudades dos meus felinos em BH. Na pensão não tem cachorro, muito menos gato. Tem duas tartarugas sem sal, que eu só me recordo que existem quando aparecem no meio do meu caminho, dois periquitos, que só querem saber de namorar e dois papagaios. Os papagaios moram bem na frente da minha janela, e gritam loucamente umas nove horas da manhã. Eles não falam espanhol, nem guarani, o que me leva a acreditar que eles são analfabetos. Apesar disso, eles são legais. Sempre coloco um pedaço de maçã pra ver eles brigando entre si por causa da fruta. Um pega, depois o outro rouba, depois o outro fica puto e pega de novo, e assim por diante. É legal ter eles em casa, apesar de serem bem menos interessantes que os meus felinos, que falam, brigam, assistem TV, fazem graça,ficam de mau, etc, etc, etc. Ê saudade!

Numa festa semana passada eu conheci um paraguayo muito bacana que trabalha com hiphop. Ele faz produção de eventos, canta, dança e ensina, tudo relacionado com o mundo da black music (apesar dele ser branco. Não existem negros no país). O cara tem um projeto muito doido, de ensinar hiphop pra crianças deficientes mentais, além de patrocinar oficinas pra jovens carentes. Fui convidada a conhecer um projeto que tava rolando, de duelo de break dance, no centro da cidade, domingão a tarde. Assumo que acordei super preguiçosa, de ressaca, e mal lembrava do convite. Falei com a Babita do programa esperando ouvir um ‘’ah que preguiça’’ que legitimasse a minha falta de disposição e me surpreendi com um ‘’legal, vamos aprontar e ir então’’. Ok. Chegamos no clube e entrei cheia de preconceitozinhos, esteriótipos de que era um ambiente ‘’barra pesada’’, escuro, submundo do mau. Felizmente, me enganei por completo. O pessoal era super tranquilo, puxaram papo comigo, ofereceram bebida, convidaram para dançar. Quando chegamos estava terminando uma apresentação de rap de improviso no palco, muito legal. Aí começaram os duelos de break. Os meninos eram sensacionais, super desenvoltos, davam piruetas, saltos, rodavam no chão, dançavam super bem. E além disso, eram super gracinhas uns com os outros: abraçavam antes de duelar,desejavam sorte e depois ficavam fingindo que se odiavam, pra dar aquele clima de duelo. Eu e Babita ficamos boquiabertas com tudo, amando cada movimento da rapaziada. Quando não estávamos paralisada, vidradas com as apresentações, tirávamos fotos e filmávamos, numa tentativa desesperada de dividir e distribuir aquilo com outras pessoas. Nesse mesmo dia do break, a noite, fomos conferir uma peça de teatro: ‘’Galileo Galilei``. O atores eram bons,os figurinos eram excelentes e a história fluia, sem muitos nós que fizessem o enredo ficar arrastado. O incrível do teatro é como os personagens falam bem. É óbvio, eu sei, que uma das características principais das artes cênicas é a fala pausada e clara, em alto e bom som. Contudo, quando você está aprendendo uma outra língua, isso fica ainda mais evidente. Pensando nisso, eu listei mentalmente quais pessoas são mais fáceis de compreender em casteliano. Primeiro vem os personagens, teatro na frente depois o pessoal da TV. Aí vem os professores, que tem uma dicção excelente. Crianças são as próximas. Não por terem uma fala limpa, mas por falarem coisas pouco complexas, meio bobas, que são bem simples de entender. O resto da população empata agora, exceto pelos adolescentes (como meu ‘’irmão`` Rodrigo, aquele que me bate) e por alguns universitários. Todos falam muito rápido, cheios de gírias, puxando um R que não existe e engolindo palavras. Aí fica impossível traduzir. Fica pra eles o troféu ‘’Han?!?``. Seguindo a onda de listar coisas, aproveito para fazer um panorama financeiro de quanto custam as coisas em Asunción, fazendo um comparativo com Belo Horizonte (Covivendo com as meninas de outros lugares tô descobrindo que BH é muito careira). Na lista das coisas mais baratas temos : aparelhos celulares, máquinas fotográficas, xerox, passagem de ônibus, entradas de baladas, roupas e sapatos (a maioria), tratamentos de beleza, batata Pringles, Iogurte,McDonalds, cinema, refrigerante, cachaça, remédios, tênis, cantadas (hehehe). Na lista de coisas com o mesmo preço temos os cigarros, as bebidas e petiscos em bares e baladas, CDS, material de papelaria, taxi. Agora os mais caros: chocolate, sorvete, livros, frutas, verduras, legumes. Pronto! Taí um manual básico de preços. Como podemos observar, aqui é mais barato que BH. Entretanto, os itens mais caros são os que eu mais consumo, então acaba que nem fica tão mais barato assim.

Esse final de semana não deu pra sair. Na quinta-feira eu sofri um pequeno acidente, devido a minha natural total falta de equilíbrio, e levei um super capote. Ralei os dois joelhos, machuquei meu tornozelo e tô com a perna super inchada e dolorida. No dia eu não dei muita bola pra tudo isso e fui bailar salsa num bar super bacana, com banda e tudo mais. Depois da salsa, como não tinha ônibus pra voltar pra casa naquele horário, fomos pra uma outra balada ali perto, que tocava reggaeton (como qualquer lugar) mas também muita música boa e, inclusive, tocou Los Hermanos e Mamonas Assassinas, que só a gente soube cantar! Enfim, quando pegamos o ônibus era cinco da matina e minha perna começou a apitar, doer muitão. Quando desci do coletivo, mal conseguia andar e ao chegar em casa percebi o quanto a situação tinha piorado. Agora eu tô me castigando de propósito, pra ver se eu fico boa logo e volto pra vida bandida.

domingo, 9 de agosto de 2009

Paraguay Parte III ‘’I Speak mejor when...’’

É estranho como a gente se acostuma rápido com as mudanças. Nos meus primeiros dias aqui no Paraguay tudo me parecia muito novo, muito diferente. Agora tenho a impressão que moro aqui faz anos, que sempre falei espanhol, que conheço as ruas, os bares, as farmácias, as lojas da cidade desde criança. A minha casa então, nem se fala! Sei onde fica tudo, atendo o telefone, abro a geladeira de madrugada, fico zapeando na TV, levo uns socos do meu ‘’irmão’’quando fico enchendo o saco e bato papo com a cozinheira como se fôssemos velhas conhecidas. O meu quarto tem meu cheiro (se é que eu consigo sentir meu próprio cheiro), minhas coisas se organizam desorganizadamente de uma forma que eu consigo encontrar (quase) tudo, meu celular já guarda mensagens queridas, meu cotidiano começa a tomar um molde de rotina, com suas tarefas em seus devidos horários. Acho que assim fica mais fácil de passar os dias, que continuam correndo, tanto aqui como certamente em BH, loucamente...

O tempo aqui parece ter enlouquecido de uma vez por todas. A semana começou gelada, de bater queixo, frio demais da conta, nada fazia com que meus pezinhos saissem da temperatura de vinte graus abaixo de zero. No dia seguinte, já acordei com minhas cobertas no chão e semi nua, tinha me desvencilhado brutalmente de tudo, porque de repente, assim, do nada, fazia um calor miserável! Ficou assim uns três dias, camisetinha e tal, sem se preocupar em usar duas calças, três blusas, meia de lã e gorro. Foram três lindos dias de tranquilidade climática, temperatura quente mas nem tanto, um pouco de nuvens, nada demais. Uma beleza! Estávamos todos felizes climáticamente assistindo Simpsons (eu adoro Simpsons em espanhol) quando começou uma tremenda tempestade! Chuvão, ventos ameaçadores, aquele cenário básico de filme de terror. Agora o frio voltou, tá tudo úmido e a chuva não dá trégua. Assim não será possível! Vou ter que andar com um mega kit climático todas as vezes que sair de casa. Dizem que o tempo deve estabilizar. Espero que estabilize pro meio termo total, sem chuvas,sem ventos, com um solzinho de leve pra secar as roupas do varal.

Os sábados normalmente são os dias que mais temos coisas a fazer. Como ninguém tem aulas, costumamos marcar um bilhão de programas tudo no mesmo dia, sobrecarregando o pobre coitado! Chega sexta-feira e tentamos até pegar leve, ir com calma, porque sabemos que o sabadão tá chegando e , com ele, compromissos de saídas. O chato é que até agora, os sábados coincidiram de serem os dias mais feios, mais chuvosos, mais ‘’preguiça-louca-de-sair-de-casa’’, mais cara de domingão do Faustão (credo, isso que é ofensa pesada!). Mesmo com tudo isso, tentamos driblar o lado negro da força nesse dia e aproveitar. Sábado dia primeiro, por exemplo, teve um show na praça do governo. O cantor cubano Silvio Rodrigues iria cantar em homenagem às vítimas do Ycuá Bolaños (não sabe do que se trata? Leia os outros textos mais antigos), que fazem aniversário de morte nesse dia. Apesar da chuva, a população compareceu em peso, estima-se que dez mil pessoas foram lá, embaixo de chuva conferir a homenagem. Confesso que não gosto muito do estilo de música do Silvio, tenho aquela estranha impressão que ao ouvir uma música dele, já ouvi todas. Os temas são quase todos baladinhas tristes, a maioria usa umas metáforas com pássaros, sobre redescobrir o mundo e a si próprio. Todavia, foi bonito. E eu adorei ficar no meio da multidão paraguaya, gritando uns gritos de guerra bem legais: ‘’Hey cuba, el pueblo te sauda’’. Outra coisa engraçada foi a presença da chuva. De vez em quando vinha uma tempestadizinha e todo mundo abria os guarda-chuvas e ficava aquele toldo gigante por cima da multidão. Nessas horas era impossível assistir o show, olhar o homem, então ficava uma música ambiente, muito estranho. Passava a mini-tempestade e todo mundo começava a gritar pra baixar os ‘’paraguas’’, e ficava tudo normal de novo. Depois do concerto fui tomar vinho. O bom desse clima feio é que dá pra tomar vinho e dar baforadas de fumaça gratuitamente, coisa que eu acho muito chique, desde pequenininha. O sábado do dia oito de agosto, também foi frio, chuvoso e feio. Contudo, foi terrivelmente animado! Na UNA de San Lorenzo chegaram mais dois intercambistas: um francês e um chileno. O francês Gaspar decidiu dar uma festa na casa dele e convidou todo mundo! Só levar carne pro churrasco e caña pra caipirinha falsificada. Eu e as meninas ficamos responsáveis pelo goró .Levamos quatro garrafas de caña paraguaya (que é assustadoramente barata, mas ótima pra fazer caipi e não dá dor de cabeça nem nada), açúcar, limão e morangos congelados, que virou nosso ingrediente secreto (na falta de gelo, usamos o morango pra gelar!). O trago feito dessa forma foi batizado de Magdalena Gamarra, o nome da nossa administradora acadêmica. O tributo é porque a bebida é tão enlouquecedora como a própria e é ótimo que gera uma porção de trocadilhos infames divertidíssimos! A casa do Gaspar é super modesta, mas tem um quê de casa chique. Os tira-gostos eram requintados: amendoim, castanhas, etc e tinha muita carne e mandioca frita, aos montes. Tudo uma delícia! Os convidados eram estrangeiros. Brasileiros, franceses, chilenos, argentinos e alguns poucos gatos pingados paraguayos. Parecia uma festa da torre de Babel. As pessoas mudavam o idioma dependendo do grupo, apesar de rolar uma certa preferência ao casteliano. No caminho ao banheiro você podia ouvir vários gêneros linguísticos, o que era muito bacana e gerava situações bem engraçadas. Conheci um francês, o Richard, amigo do Gaspar que trabalha como fotógrafo na América Latina faz três anos. Estávamos falando justamente de como aquele churrasco de Babel era bizarro quando ele perguntou se eu falava inglês. Eu fiquei super animada pra conversar um pouco em inglês e descansar meu casteliano e disse que sim. Ele ficou super feliz e falou um monte de coisa, que eu compreendi perfeitamente. Quando fui responder , lancei um: ‘’I Speak mejor when...’’, que comprovou que falar e compreender três línguas em uma festa ainda está fora do meu alcance. E tenho a impressão que aqueles que dominam isso, acabam não falando nenhum idioma direito. Como exemplo temos o Jefferson. Jefferson é brasileiro de Niterói, vive em Asunción a quase dois anos trabalhando como jogador de futebol e namora uma francesa de Paris. Jefferson não fala um espanhol muito bom e quando falamos com ele em português ele responde em portunhol, como se tivesse desaprendido nossa língua. Não sei se o rapaz estava fazendo graça, mas me passou a impressão que não sabe falar bem espanhol, francês (ok, eu não falo francês, mas suponho que ele também deve ser só enrolação) e muito menos português. Jef é um caso interessante de poliglota desidionomado, pela minha definição livre.

domingo, 2 de agosto de 2009

Paraguay Parte II ''lave sua roupa e não vá presa''

A faculdade de Filosofia da UNA (Universidad Nacional de Asunción) é pequena. De dia funciona um centro chamado colégio experimental Paraguay-Brasil. Uma escola de ensino básico, fundamental e médio. O projeto arquitetônico original da construção é do Niemayer, mas com o passar dos anos, repinturas, adaptações e puxadinhos descaracterizaram o prédio, deixando ele com uma cara de prédio velho, sem muita graça. Todo o departamento de comunicação funciona em um corredor de uns 120 metros, com cinco salas de aula, uma coordenação e uma secretaria. Bem modesto. Na coordenação tem um computador capenga, duas mesas com papelada,uma secretária simpatiquérrima, que sempre me serve café ralo e Miguel, o coordenador ‘’estrelinha’’ (termo de Lujan, uma paraguaya querida). A minha primeira aula foi de Realidad Social Paraguaya, uma matéria que faz parte do currículo do terceiro ano. Como estamos em julho, pego tudo com o bonde andando, já que as aulas começaram no início do ano. O professor, muuuuito simpático e bem humorado, começa a aula chamando atenção da turma, que está numa falação terrível. A piadinha utilizada não foi muito diferente das que ouvimos no Brasil, quem faz comunicação costuma ouvir sempre a mesma coisa: ’’sé que hacen comunicación, pero se comunican demasiadamente....así no és possible’’. A turma acha graça e aos poucos vai tranquilizando, parando de falar. A aula rende,o professor entrega provas, e lança uma nova temática. Consigo esboçar várias anotações no meu caderno e fico aliviada de ver que consigo compreender com facilidade o que é passado. O tema do dia é a reforma agrária paraguaya, que é caótica, desorganizada, injusta e prometida a anos. Sempre a mesma ladainha. Me lembra a reforma de um certo país que começa com B.

Na frente da faculdade tem bares para tomar cerveja, que estão sempre lotados de universitários. Riccardo diz que as pessoas saem de casa para ir ao bar e, caso fiquem entediados ou faça muito frio, entram pra assistir aula. Também tem uma barraquinha boa pra fazer lanche e tomar café. Tudo bom e barato até não poder mais. Paguei em um hamburguer, com salada, maionese, queijo, nada mais que 3000 guaranis, que é o equivalente a R$1,40. Ah....em Belo Horizonte não se come bem com tão pouca grana! Comer bem aqui no Paraguay é absolutamente relativo, pois a comida tem sido meio problemática até o momento. A base da alimentação parece com a brasileira: tem arroz, mandioca, pão, carne em todas as refeições. Feijão não tem. Ter até tem, mas é estranho, sem tempero, sem caldo, sem gosto de feijão. Infelizmente, cometem um assassinato ao melhor ingrediente que uma cozinha pode ter. O modo de preparar as coisas parece se guiar pela lógica de ‘’quanto mais óleo, melhor’’. Tudo é oleoso. O arroz, a carne, o frango, os molhos, o macarrão. Para requintar ainda mais o projeto de comer tudo de forma extremamente não-saudável tem as saladas, ou melhor, não tem saladas. Até agora não vi salada bonita na mesa, no prato de comida. Oposto do meu dia a dia em BH, onde comia salada, muuuuuita salada todos os dias. Tem mandioca, arroz oleoso, purê de batata, carne e....só. Meu intestino estava a beira de um colapso nervoso quando fui jantar com uns amigos e me deparei com a maravilha no cardápio: ensalada mixta.Sei que fiquei salivando loucamente enquanto esperava a melhor refeição do mundo: uma salada. E foi realmente maravilhoso. Agora me deu até um baque de nostalgia, mas vamos tentar prosseguir. Apesar de meu ódio à ausência de feijão e de saladas, nem tudo é decepção na gastronomia paraguaya. As empanadas (já citadas anteriormente) são gostosas, as chipas são boas (dizem que é pão de queijo, mas acho que nunca foram em Minas Gerais pra saber o que é pão de queijo), a mandioquinha frita com alho...hummm, bão demais! As sopas são saborosas, os doces são bem bacanas (tem uma rosca recheda com doce de leite que benza Deus) e nos bares podemos encontrar petiscos deliciosos, que fariam bonito no Brasil também. Na parte de bebida tampouco é problemático, tem bebidas bem gostosas, a cerveja Pilsen daqui, é bem melhor que Skol, Sol e Itaipava e tem opções variadas de refrigerante. Abacaxi, maçã, pomello, etc. Tudo muito interessante para misturar com vodcka.

Aqui na pensão, minha casa, recebemos mais quatro brasileiras. Babita mi amor (Bárbara de São Manoel, SP) que faz pedagogia, Vanessa e Juliana (Curitiba e Sampa capital) que fazem letras e Morgana (Santa Maria) que faz História. Todas irão frequentar a mesma faculdade que eu. Não só a mesma faculdade como o mesmo banheiro, o mesmo quarto, a mesma sala, bem provavelmente as mesmas baladas. Mudamos para um quarto fora da casa, no quintal. É um quarto grandão, com geladeira, pia, banheiro e internet no ar (huhu!). A idéia é deixar a gente com mais privacidade, podendo chegar tarde sem incomodar mi mamá. O que parece plausível, visto que no primeiro dia em que sai pra balada cheguei nada menos do que as 7 horas da manhã e tive que tocar a campainha. Fiquei constrangida, mas Cáti nem se importou e reforçou que eu faria o que eu quisesse aqui, contanto que: ''lave sua roupa e não vá presa''. Acho que conseguirei cumprir com as duas coisas. Agora teremos chave, o que facilitará muito a nossa vida. Pelo menos eu acho. Também creio que será mais econômico assim, morando nós cinco. A gente faz uma boa compra no início do mês e ponto acabou. Tem também uma outra questão: é bom ter meninas para conversar, para experimentar coisas juntas, trocar idéias e coisas e poder se apoiar, poder confiar. Poder falar um pouquinho de português no fim do dia, mesmo com um sotaque estranho, castelianado. O pacto é a gente se ajudar, se cuidar, sermos família. Aqui, é fundamental ter uma família...mesmo que seja assim, de mentirinha.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Paraguay Parte I ''no fundo, no fundo é tudo a mesma coisa''

“São 12 horas e 20 minutos. Sejam bem vindos a Asunción,a temperatura marca 16 graus. Por favor, os passageiros que não forem desembarcar, permaneçam em seus lugares. O uso de celular e outros eletrônicos não estão permitidos. Obrigada por voar conosco e tenha uma boa estadia.’’
O chegar ao chão fez minha barriga dar mais duas pontadas agudas e me sinto meio enjoada. Boxe dentro do estômago. Minha tosse deu uma piorada e sinto que tenho gripe suína. Fico com medo de ser barrada logo na entrada. Menti em todos os quadradinhos do ministério da saúde Paraguayo, que tenta evitar que pessoas infectadas como eu, entrem no país.
Na chegada tudo normal, exceto o pavor de não ser buscada no aeroporto. Para minha surpresa geral, é exatamente isso o que acontece. Contudo, porém, todavia, encontro o coordenador acadêmico da agronomia e engenharia florestal, que se disponibiliza a ligar pra Sra. Magdalena e me arrumar uma moradia provisória. Vamos eu, Gabriel e Danilo, dois meninos simpáticos do Sul do Brasil. No carro tenho minhas primeiras impressões sobre o Paraguay. Fidel, o coordenador, é extremamente bem humorado e bebe tererê enquanto dirige, sem se preocupar de não ter mão alguma segurando o volante e sequer usa cinto de segurança, mas tudo bem. O tererê roda os três dentro do carro e chega a mim. Dou um golinho por educação, mas faço uma caretinha inevitável. A bebida é surpreendentemente gelada e absolutamente amarga. Fidel faz uma piadinha e todos riem. Danilo fala espanhol com desenvoltura,tranquilamente. É diferente do Gabriel, que arranha um portunhol tosco, falando português com sotaque. Eu prefiro ouvir mais e falar menos, observar mais e falar menos, é tudo muito novo, meio complicado de ficar dando pitacos. Ah! Minha gripe suína magicamente sara no caminho pra San Lorenzo.
Na estrada tem outdoors com propagandas Paraguayas, muitos carros velhos, muitos deles estão absolutamente destruídos, caquéticos, e a maioria sequer tem placa. Os ônibus são lindos. São velhos, meio caindo aos pedaços, mas exibem lindas pinturas na lateral, com caligrafias rebuscadíssimas e muitas informações pra o usuário, tudo extremamente colorido. O caminho que pegamos leva a San Lorenzo, cidade metropolitana de Asunción, onde fica o Campus dos meninos. O Campus é muito grande. Têm vacas, bois, ovelhas, árvores gigantescas, plantas diversas catalogadas. Os prédios são simples, na verdade os prédios são casas. Tudo parecendo meio interiorano, casinhas de tijolo pra tudo, inclusive a reitoria, a biblioteca, o restaurante universitário. San Lorenzo é uma típica cidadezinha do interior, apesar de ser do lado da capital nacional do país. Cachorros caminhando, crianças brincando no meio da rua, poucas ruas asfaltadas e aquelas que são de fato, asfaltadas, são esburacadas, com péssimo calçamento. Prato cheio para uma bagunça quando chove. Quando chove as ruas ficam cheias de poças gigantes e enlamaçadas.As lanchonetes (que vendem hamburguesas, milanesas e empanadas) e os butecos (que vendem cerveja, além de hamburguesas, milanesas e empanadas) fecham. As lojinhas com acesso a internet param de funcionar (já que a internet cai) e a cidade parece uma cidade fantasma, em dia de feriado ou sei lá.
Os universitários daqui parecem muito com os universitários brasileiros, acho que no fundo, no fundo é tudo a mesma coisa. No primeiro dia fui a uma feira rural gigantesca (importante lembrar que estou vivendo com agrônomos...o pessoal me chama de ‘’ la periodista rural’’). Nunca vi uma feira tão enorme. Tinha dezenas de galpões expondo bois de marca tal, vaca de marca tal, cabritos de não-sei-o-que-lá. Stands de tudo quanto é coisa, de marca de caña (cachaça) com degustação a jóias, tratores, roupas,móveis, tecidos. Além de stands educativos, sobre hidrelétricas, cursos, apicultura, ervas medicinais, etc,etc,etc. Essa feira era inverossímel! Foi aí que tive o primeiro contato com os universitários, que montaram um stand do curso deles e ficavam lá, gorozeando e conversando num espanhol frenético - ‘’nosénoséquemésjajajajaajnosénoséquemásjaajja’’.Tentar acompanhar a conversa desse povo foi terrivelmente complicado, até Ezequiel, o argentino que mora conosco, teve que concordar que eles pareciam drogados com ecstasy, hablando muy rápido. Quase no final da feira, mais ou menos umas 22 horas, o pessoal fechou o stand com uma fita, trouxeram empanadas (que é tipo um pastel, mas costuma ter ovo e é mais pesado) e coca cola e um rapaz foi lá na frente e danou a falar rapidão, um monte de coisa. Eu fiquei lá, enrugando minhas veias da testa para tentar decifrar o que o cara dizia quando reparei que ele estava nos homenageando, agradecendo nossa presença no Paraguay e desejando coisas boas. Depois uma menina fechou o discurso falando como era importante que países vizinhos fossem amigos (isso eu entendi) e etc e tal e convidou todo mundo pro lanche. Sei que eu estava ali de bico, que não era exatamente direcionado pra mim, mas me emocionou muito ver que eles tiveram essa delicadeza, de fazer uma festinha de boas vindas, de fazer um discurso rapidão, de querer fazer com que fiquemos a vontade no país deles. Ponto pro povo paraguayo.
Asunción é uma cidade grande. A capital federal e maior cidade do país. Uma cidade-estado. Aqui também tem problemas de calçamento, drenagem, violência e miséria, um bocado de miséria. Asunción não é voltada pra o turismo e muito menos tem aquele ‘’quê’’ para inglês ver. É estranho que, apesar de ser a capital de um país, Asunción não tem muito movimento. Fora os horários de rush, é tudo muito calmo, parado. Sábado e domingo então...não tem nada, só tem movimento a noite e um pouquinho na hora do almoço. Isso acontece por dois motivos (acho): o primeiro é que moram poucas pessoas aqui. A maioria trabalha aqui mas mora nos arredores, pois é uma cidade cercada de outras cidades menores, que formam ‘’la gran asunción’’. O segundo motivo deve ser que as pessoas aqui são caseiras. Não existem muitos restaurantes, cafés, lugares para se comer fora. Estranhíssimo isso... caminhei sábado a tarde no centro da cidade e vi pouquíssimos carros e pessoas. Como uma cidadezinha do interior.
O rio Paraguay forma a bahia onde a cidade se desenvolveu. Atravessando o rio é possível conhecer os chacos, que, segundo Riccardo, um amigo-guia, não passam de pasto, pasto e mais pasto, com alguns vilarejos indígenas. Perto do rio é onde cresceram as favelas, bem parecidas com as favelas brasileiras, exceto que são planas, não estão em morros. O palácio do governo , muitíssimo bem policiado, fica em uma praça que beira o rio também, além do velho congresso, que tem uma história muito curiosa. O prédio do congresso era um prédio antigo, muito bonito, cheio de detalhes arquitetônicos ricos e coisa e tal. Em um belo dia, houve uma das muitas revoluções populares, só que esta em especial tinha apoio dos militares. O povo chegou para protestar com um pequeno tanque e acabaram atirarando no telhado para amendrontar os políticos. Não só amendrontados como simplesmente apavorados, os congressistas decidiram que aquele prédio não era mais seguro para se trabalhar e exigiram a construção de um novo lugar, uma construção suntuosa e ultra moderna que não combina com absolutamente nada em Asunción.Parece mais uma nave voadora, muito tosco. Muitas construções da cidade remetem às suas guerras e revoluções. O fracasso do país na guerra da tríplice aliança (que nós chamamos de guerra do Paraguay), por exemplo, marcou bruscamente a cultura deles. Riccardo diz que as cicatrizes são ouvidas nas canções populares, folclóricas. É tudo muito melancólico, arrastado, triste mesmo. Ouvindo as músicas dá pra notar: são doloridas, muito pesadas. Andando pelas ruas, reparei que vários postes tinham cartazes que estavam em luto, exigindo justiça, indignados. Me explicaram que se tratava da tragédia de Ycuá Bolaños, uma história muito louca. Em agosto de 2004, aconteceu um gigantesco incêndio em um hipermercado de Asunción, chamado Ycuá Bolaños. Os donos do lugar, ao invés de simplesmente liberarem a saída de todos (o que deve obviamente ser feito em uma emergência), fecharam as portas, para evitar que houvessem furtos. Resultado: quatrocentas pessoas morreram queimadas e/ou pisoteadas dentro do supermercado. Desde o incêndio, sobreviventes e familiares brigam na justiça para serem indenizados e para que os responsáveis cumpram pena. Até agora, parece que nenhuma justiça foi feita.
A pensão da Sra. Cáti, para onde me mudei, mais parece um cenário de novela. As paredes são decoradas com pratos pintados e panos de prato, além de flores de plástico e porta retratos com fotos de família. Um monte de gente num entra e sai danado, quase trinta pessoas dividindo uma mesma casa, cada qual com seus porquês de estar aqui, no Paraguay. A grande maioria são brasileiros que vieram fazer mestrado ou doutorado na Universidad Autônoma de Asunción, uma faculdade particular que fica a uma quadra daqui. A Sra. Cáti e sua família -- filho, filha, marido e genro – recebem a mais de dez anos pessoas de diversos países dentro de sua casa com comida, televisão,água quente, internet e, é claro, o maior carinho do mundo. No dia que cheguei era hora do almoço. Cáti, que é chamada respeitosamente de ‘’mamá’’ por quem fica aqui hospedado não se encontrava. Só havia um argentino em casa e eu não fazia idéia de como aqui era uma loucura nos horários de pico. Uma bagunça, uma gritaria, um caos generalizado. Segundo mamá me explicou,o mês de julho, juntamente com janeiro é quando tem mais pessoas por aqui. O mestrado e o doutorado na UAA funciona assim: de seis em seis meses os alunos vêm, estudam um mês ou dois e retornam para casa. Quando digo que devo ficar seis meses direto estudando aqui, as pessoas levam um susto, acham que enlouqueci. A minha primeira manhã aqui faz muito frio, três ou quatro graus. Acordei com Lorena, uma peruana que divide quarto comigo, arrumando sua mala para ir embora, depois de seis meses morando aqui. Mamá estava sentada na beira da cama, fazendo rolinhos de roupa e palpitando que ela havia comprado muita coisa, que não iria caber tudo, que ia exceder o peso e depois reclamava que iria sentir saudades. Quando me viu acordada, observando, mamá abriu um sorriso gracinha e disse:
- Haces frio...es seguro, amor!
E pegou uma coberta que sobrava na outra cama e me cobriu, além de dar uma apertadinha no meu pé. A cena me lembrou muito a minha casa. Dudu arrumando a mala da Nina, eu fazendo umas piadinhas bobas e aquela coisa... bem família, calminha, gostosa.

terça-feira, 19 de maio de 2009

UHU!


É com muita satisfação que informo que eu cheguei aos meus 21 anos, apesar de todos os pesares. 
Sendo assim, acredito plenamente que devemos celebrar essa data, com uma boa baladinha de leve (sabemos, é claro, que a expressão "de leve" não passa de um eufemismo, pra não assustar os mais recatados). 
A festa vai acontecer na minha casa (rua cláudio manoel 518, esq com prof.moraes), dia 29 de maio,sexta feira, 21 horas. Como eu ando meio falida... irei cobrar 15 conto pra ajudar no goró e cia. O "ingresso" garante cerveja, drinkizinhos,comida,cerveja,música boa, gente legal e bonita, mais comida e cerveja. 
Espero a confirmação e o pagamento até dia 27, quarta-feira. 
Qualquer coisa....disque 8458 5398!
beijos,
Lu


2 Observações IMPORTANTES: 
Levar dinheiro pro caso do goró acabar!
Tem um mapinha mais pra baixo aí no blog mesmo... pros cegos em tiroteio de plantão.