terça-feira, 22 de setembro de 2009

Paraguay Parte VII ''um disse-me-disse que nossa senhora!''

Coisas irritantes do Paraguay:

Os pernilongos diabólicos. Eles chegam de fininho, em bando, quase sem fazer barulho…mas quando você vê, lá estão: o exército de insetos do mau contra você, um pobre ser humano. Eles picam qualquer parte sua que esteja a vista, mesmo as menos cotadas, como pálpebras, cotovelo, palma da mão. Não te deixam dormir. São organizados e estrategistas. É impossível vencê-los.

A preguiça Paraguaya. A aula está marcada para seis da tarde. Mas os alunos chegam seis e vinte e a professora seis e meia. A aula devia durar até sete e meia, mas todos chegam a um acordo idiota que é melhor acabar um pouquinho mais cedo, talvez sete horas. O comércio fecha as portas para o almoço. Uma da tarde é hora de almoçar em casa, fortalecendo os laços familiares. Mas parar de trabalhar durante uma hora é muito pouco para os Paraguayos, pois faltaria a sagrada hora da siesta pós-almoço. Ótimo! Vamos todos tirar um cochilinho e reabrir as postas do comércio, bom, quem sabe umas três e meia?

O fanatismo futebolístico. Se você acha que o Brasil é o país do futebol, onde todos são loucos por esse esporte, é porque ainda não morou no Paraguay. As propagandas na TV só conseguem pensar em um único tema: o futebol. Em toda campanha tá lá: criança com camisa da seleção, boazuda com camisa da seleção, casal de velhinhos com a camisa da seleção. Dia de jogo da seleção? É o único assunto, o único porquê de levantar da cama. Fecha o comércio, fecha a faculdade, fecha o trânsito. Os ônibus ficam lotados, a cidade fica violenta e não há policiamento, porque os policiais estão bêbados assistindo ao jogo. Se a seleção Paragaya ganha então (como aconteceu no jogo contra a Argentina)...o presidente Lugo declara feriado.Ai, ai, ai....

Morar na pensão da Cáti é garantia de confusões diárias generalizadas. Todo dia acontece alguma coisa bem doida, super incomum,como diria aqui no Paraguay, um ‘’quilombo’’! Agora descobri que o Estévan, argentino bom moço que mora por aqui , publica via internet , no facebook, todos os podres dos moradores da intitulada ‘’Pensión del Drama’’ (definição do Estévan, que eu apoiei e achei bem boa). A novela, que tá fazendo o maior sucesso entre os argentinos, deu o que falar por aqui também. Tá rendendo um bafafá, um disse-me-disse que nossa senhora! Sinceramente? Eu não tinha necessidade de sair daqui de dentro dessa casa para escrever centenas de casos. Misturar uma criança,doze jovens universitários de diferentes partes do mundo, um adolescente, dois adultos e uma velhinha é certeza de muita história pra contar! Dá a maior dor de cabeça mas eu particularmente adoro.

Peço desculpas mas esse post vai ser curtinho. Tô com a patinha quebrada e assim fica difícil digitar. Esse é só pra dizer que ainda escrevo, mesmo que de vez em quando. Juro compensar no próximo, quando minha patinha já estiver melhor.

sábado, 5 de setembro de 2009

Paraguay Parte VI ''sorriso de boba alegre estampado na cara''

‘’Puta que pariu!’’. A expressão mau educada foi a única que conseguiu escapulir de minha boca quando entrei em contato com uma das sete maravilhas naturais do mundo: as cataratas do Iguaçu. A paisagem parece tirada de um descanso de tela exagerado, feito no photoshop, com todos os recursos para uma visão paradisíaca, sobrenatural. O passeio pelo parque das cataratas impressiona, deixa as pernas bambas, o queixo mole. Quanto mais você caminha na trilha, achando que nada mais irá te assombrar, aparece na sua frente mais uma porção de quedas d’água maravilhosas, para compor a paisagem de forma mais e mais harmônica. O barulho da força das cataratas dá uma paz, uma serenidade, uma coisa diferente de tudo que eu já havia experimentado. O calor que estava fazendo, no céu absurdamente azul, sem nenhuma nuvem, só ajudou pra deixar tudo mais cinematográfico. Existe no meio do parque um corredor que te leva bem próximo a algumas cachoeiras, e de lá podemos sentir o sopro refrescante das águas. Fiquei ensopada, mas com um sorriso de boba alegre estampado na cara. Tudo lindo. Muuuito lindo. Uma apelação dos Deuses de tirar o fôlego. O dia já havia começado muito bem, com compras em Ciudad del Este, a capital da quinquilharia barata da América do Sul. Lá, meus perfumes prediletos , que eu chego a pagar 200 reais por míseros 50 ml, custam 80 reais. Desejo incontrolável de fazer a festa, levar a loja toda! O Rô, meu primo querido e companheiro de viagem, comprou um HD externo num shopping gigante de produtos de informática. Nesse shopping eu lembrava do meu pai o tempo todo. Meu pai sempre foi um amante e entusiasta de novas tecnologias. Ficava imaginando ele nesse centro, chamdo Lai Lai, com tudo escandalosamente barato e de última ponta. Dá até vontade de virar sacoleira, confesso. O mais estranho de Ciudad del Este é que, fora desse caos generalizado que é o centro de compras, a fronteira e a ponte da amizade, o resto da cidade é muito tranquilo. Não só tranquilo como também bonito, arborizado, organizado,com vias sinalizadas, cheio de praças. Uma cidade que até engana que é primeiro mundo, tipo europona. Essa viagem de bate-e-volta até Foz foi muito interessante. Eu e o Rô fizemos todo um estudo antropológico do transporte rodoviário paraguayo. Chegamos no terminal em Asunción calculando pegar o ônibus das 3 horas da madrugada. Contudo, apareceu um Zé, do nada, e nos ofereceu saída imediata, em um ônibus novo, com o mesmo preço das outras viações. A proposta nos pareceu uma boa idéia e aceitamos. Ao embarcar, percebo a furada. O ônibus é super velho, meio caindo aos pedaços e a poltrona inclina, mas depende do meu peso apoiado para se manter inclinada. Ou seja, deito e ela deita. Levanto e ela volta pro lugar. Um ''siga o mestre'' irritante. Até aí tudo bem, pequeno detalhe. O busão entra em movimento e nada da luz apagar. O ar condicionado parece estar no topo de sua capacidade, no máximo. Faz muito frio e começa a ficar meio incômodo. O motorista é um sem noção, que começa a ouvir música alta, impedindo que eu possa sequer tentar dormir. Quando eu acreditava que nada mais podia piorar vem a demora do trajeto. O ônibus pára de quinze em quinze minutos pra pegar jecas no meio do caminho e enche. Não só as poltronas numeradas, mas os corredores e qualquer centímetro de espaço que estava dando sopa. Gente, gente, mais gente que não acaba mais. O pesadelo dentro do coletivo durou seis horas. Frio, luz acesa, sem poder dormir ouvindo a cumbia do motorista com mais oitenta mil pessoas se esmagando. O mais legal é que esse transporte do mau foi parado pela polícia e liberado (com obviamente uma propinazinha básica) em menos de um minuto. Vergonha. A volta já foi bem menos traumática. Não tinha ar condicionado, nem cumbia, muito menos luz acesa. Parou menos que o primeiro e foi lotado apenas durante poucas horas. Na verdade, não reparei porque estava exausta, e vim dormindo. Mas, para não decepcionar os meus conceitos pré-existentes sobre o serviço rodoviário paraguayo, o veículo quebrou na entrada de Asunción. Um viva para a aventura que é viajar no país. Prometo nunca mais reclamar dos ônibus rodoviários brasileiros.

Normalmente voltamos da faculdade juntas. O caminho é longo e é bom quando temos companhia... Conversando o tempo passa bem mais rápido. Estávamos voltando eu, Vanessa e Ju quando um gatinho atravessou a rua correndo. Ele era do tipo vaquinha, preto e branco com cara de carente. Chegou super simpático, olhou pra gente e ficou todo animado com nosso carinho. Irresistível não levá-lo pra casa. No caminho pensávamos o que faríamos com o novo morador. Várias idéias passaram pelas nossas cabeças: mantê-lo escondido durante todos os seis meses; colocá-lo em uma caixa,enfeitá-lo com um lacinho e dar de presente à Cáti; chegar em casa e dizer a máxima ‘’ele nos seguiu até aqui’’ e outras, cada vez menos brilhantes e mais engraçadinhas. Enquanto não criávamos uma boa estratégia, ficamos com o Sr.Michi Morosini escondido (Michi é uma forma de dizer gatinho em espanhol e Morosini é o nome do Secretário da UNA, que atua como nosso super herói por aqui). O esconde-esconde durou oito dias, até que o gato ingrato fugiu da nossa kitnet e foi pro quintal...somente para ser descoberto. Cáti então nos deu um ultimato para encontrarmos um lar pro bichinho, já que temia que ele comesse seus papagaios analfabetos ou infernizasse a vida de seus piriquitos sexopatas. O ultimato funcionou, colocou a gente pra procurar casa pro Morosini. Traçamos um plano de ação: pregar cartazes de ‘’adoptame’’ nas ruas e fazer contatos com ONGs e grupos de apoio aos animais abandonados. A procura funcionou. Descobrimos que tinha uma feira de adoção num domingo a tarde num estacionamento de shopping e levamos o nosso gatinho. Para nossa surpresa, a veterinária responsável pela feira atestou que o Michi na verdade era a Michi. O gatinho mudou de sexo, virou menina. Durante a feira ficamos super nervosas, esperando o resultado da empreitada. Dávamos voltas e voltas no shopping pensando na bichinha na gaiola,esperando alguém se encantar com sua carinha de anjo. Pobrezinha. Felizmente e finalmente, Srta.Michi Morosini foi adotada por uma família de bom coração. A nossa saga felina havia terminado. Com um final feliz!