sábado, 5 de setembro de 2009

Paraguay Parte VI ''sorriso de boba alegre estampado na cara''

‘’Puta que pariu!’’. A expressão mau educada foi a única que conseguiu escapulir de minha boca quando entrei em contato com uma das sete maravilhas naturais do mundo: as cataratas do Iguaçu. A paisagem parece tirada de um descanso de tela exagerado, feito no photoshop, com todos os recursos para uma visão paradisíaca, sobrenatural. O passeio pelo parque das cataratas impressiona, deixa as pernas bambas, o queixo mole. Quanto mais você caminha na trilha, achando que nada mais irá te assombrar, aparece na sua frente mais uma porção de quedas d’água maravilhosas, para compor a paisagem de forma mais e mais harmônica. O barulho da força das cataratas dá uma paz, uma serenidade, uma coisa diferente de tudo que eu já havia experimentado. O calor que estava fazendo, no céu absurdamente azul, sem nenhuma nuvem, só ajudou pra deixar tudo mais cinematográfico. Existe no meio do parque um corredor que te leva bem próximo a algumas cachoeiras, e de lá podemos sentir o sopro refrescante das águas. Fiquei ensopada, mas com um sorriso de boba alegre estampado na cara. Tudo lindo. Muuuito lindo. Uma apelação dos Deuses de tirar o fôlego. O dia já havia começado muito bem, com compras em Ciudad del Este, a capital da quinquilharia barata da América do Sul. Lá, meus perfumes prediletos , que eu chego a pagar 200 reais por míseros 50 ml, custam 80 reais. Desejo incontrolável de fazer a festa, levar a loja toda! O Rô, meu primo querido e companheiro de viagem, comprou um HD externo num shopping gigante de produtos de informática. Nesse shopping eu lembrava do meu pai o tempo todo. Meu pai sempre foi um amante e entusiasta de novas tecnologias. Ficava imaginando ele nesse centro, chamdo Lai Lai, com tudo escandalosamente barato e de última ponta. Dá até vontade de virar sacoleira, confesso. O mais estranho de Ciudad del Este é que, fora desse caos generalizado que é o centro de compras, a fronteira e a ponte da amizade, o resto da cidade é muito tranquilo. Não só tranquilo como também bonito, arborizado, organizado,com vias sinalizadas, cheio de praças. Uma cidade que até engana que é primeiro mundo, tipo europona. Essa viagem de bate-e-volta até Foz foi muito interessante. Eu e o Rô fizemos todo um estudo antropológico do transporte rodoviário paraguayo. Chegamos no terminal em Asunción calculando pegar o ônibus das 3 horas da madrugada. Contudo, apareceu um Zé, do nada, e nos ofereceu saída imediata, em um ônibus novo, com o mesmo preço das outras viações. A proposta nos pareceu uma boa idéia e aceitamos. Ao embarcar, percebo a furada. O ônibus é super velho, meio caindo aos pedaços e a poltrona inclina, mas depende do meu peso apoiado para se manter inclinada. Ou seja, deito e ela deita. Levanto e ela volta pro lugar. Um ''siga o mestre'' irritante. Até aí tudo bem, pequeno detalhe. O busão entra em movimento e nada da luz apagar. O ar condicionado parece estar no topo de sua capacidade, no máximo. Faz muito frio e começa a ficar meio incômodo. O motorista é um sem noção, que começa a ouvir música alta, impedindo que eu possa sequer tentar dormir. Quando eu acreditava que nada mais podia piorar vem a demora do trajeto. O ônibus pára de quinze em quinze minutos pra pegar jecas no meio do caminho e enche. Não só as poltronas numeradas, mas os corredores e qualquer centímetro de espaço que estava dando sopa. Gente, gente, mais gente que não acaba mais. O pesadelo dentro do coletivo durou seis horas. Frio, luz acesa, sem poder dormir ouvindo a cumbia do motorista com mais oitenta mil pessoas se esmagando. O mais legal é que esse transporte do mau foi parado pela polícia e liberado (com obviamente uma propinazinha básica) em menos de um minuto. Vergonha. A volta já foi bem menos traumática. Não tinha ar condicionado, nem cumbia, muito menos luz acesa. Parou menos que o primeiro e foi lotado apenas durante poucas horas. Na verdade, não reparei porque estava exausta, e vim dormindo. Mas, para não decepcionar os meus conceitos pré-existentes sobre o serviço rodoviário paraguayo, o veículo quebrou na entrada de Asunción. Um viva para a aventura que é viajar no país. Prometo nunca mais reclamar dos ônibus rodoviários brasileiros.

Normalmente voltamos da faculdade juntas. O caminho é longo e é bom quando temos companhia... Conversando o tempo passa bem mais rápido. Estávamos voltando eu, Vanessa e Ju quando um gatinho atravessou a rua correndo. Ele era do tipo vaquinha, preto e branco com cara de carente. Chegou super simpático, olhou pra gente e ficou todo animado com nosso carinho. Irresistível não levá-lo pra casa. No caminho pensávamos o que faríamos com o novo morador. Várias idéias passaram pelas nossas cabeças: mantê-lo escondido durante todos os seis meses; colocá-lo em uma caixa,enfeitá-lo com um lacinho e dar de presente à Cáti; chegar em casa e dizer a máxima ‘’ele nos seguiu até aqui’’ e outras, cada vez menos brilhantes e mais engraçadinhas. Enquanto não criávamos uma boa estratégia, ficamos com o Sr.Michi Morosini escondido (Michi é uma forma de dizer gatinho em espanhol e Morosini é o nome do Secretário da UNA, que atua como nosso super herói por aqui). O esconde-esconde durou oito dias, até que o gato ingrato fugiu da nossa kitnet e foi pro quintal...somente para ser descoberto. Cáti então nos deu um ultimato para encontrarmos um lar pro bichinho, já que temia que ele comesse seus papagaios analfabetos ou infernizasse a vida de seus piriquitos sexopatas. O ultimato funcionou, colocou a gente pra procurar casa pro Morosini. Traçamos um plano de ação: pregar cartazes de ‘’adoptame’’ nas ruas e fazer contatos com ONGs e grupos de apoio aos animais abandonados. A procura funcionou. Descobrimos que tinha uma feira de adoção num domingo a tarde num estacionamento de shopping e levamos o nosso gatinho. Para nossa surpresa, a veterinária responsável pela feira atestou que o Michi na verdade era a Michi. O gatinho mudou de sexo, virou menina. Durante a feira ficamos super nervosas, esperando o resultado da empreitada. Dávamos voltas e voltas no shopping pensando na bichinha na gaiola,esperando alguém se encantar com sua carinha de anjo. Pobrezinha. Felizmente e finalmente, Srta.Michi Morosini foi adotada por uma família de bom coração. A nossa saga felina havia terminado. Com um final feliz!

2 comentários:

Juliana disse...

Acabou a saga felina e comecou a saga coelhina nesse zoologico em que vivemos.
Agora me deu saudade da Michi e ate dos esquemas que faziamos pra ela nao ser descoberta.
E andar de onibus no Paraguay e sempre uma diversao. Em que outro lugar seria possivel andar em onibus enfeitados com luzes multicoloridas, cachos de uvas ou bonequinhos de vodu que acendem a barriga quando o motorista freia (nao acho os acentos e o ponto de interrogacao)
Beijos, Lu!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.