quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Paraguay Parte VIII: ''batendo um frio na espinha''

Às vezes paro para pensar como será quando eu voltar pro Brasil. Voltar pro meu dia-a-dia, minha família, meus amigos, minha casa, meus gatos, meus butecos, minhas baladas de BH, minha faculdade, minha vida. Isso que é o mais estranho: ter a segurança que a minha vida é na verdade lá, não aqui. É óbvio que eu não acordo e me assusto todos os dias, pensando ‘’ondiéqueutô’’, mas eu tenho noção que esse quarto não é de fato o meu quarto. Essa não é a minha cama (eita colchãozinho maldito) e essa casa não é a minha casa. Outro dia despertei muito triste, pensando em como eu queria o colo de minha mãe, os conselhos de minhas meninas.Ao mesmo tempo tava me batendo um frio na espinha de pensar que tudo estava mudando e que eu podia voltar e estar tudo estranho, fora do lugar. Fui almoçar e Juli, uma peruana linda muito minha amiga veio conversar comigo e falou uma coisa muito verdadeira. Ela disse que certamente estaria tudo estranho, tudo fora do lugar, tudo mudado não porque as pessoas tenham se transformado, mas porque eu tinha me transformado completamente. Eu iria ser a ‘’mudada’’ da história. Pensando dessa forma, fiquei mais tranqüila, menos preocupada com o futuro. Medindo forças com a saudade do Brasil existe o outro lado da moeda, onde fica o medo de ir embora e deixar aqui tanta coisa que agora faz parte do meu mundo, faz parte de quem eu sou. Isso inclui, obviamente, meus amigos e amigas. Me dá até um aperto pensar na possibilidade de não ter minhas meninas daqui pra jogar conversa fora, falar bobagem. Não ter o Doug cantando sertanejo a toda altura pra me acordar, gritando um ‘’Luizaaaaaaa, você tá dormindoooo?’’ só para ouvir o meu mau-humorado ‘’Não mais.’’ Fora as meninas da faculdade, super carinhosas e preocupadas comigo…O Guille, doido, bobo, meu irmãozinho. Ou o Dani. Um espanhol incrível, companheiro diário de tonteria, que quero levar comigo pra casa. Daqui só restarão as lembranças, o carinho que tenho por essas pessoas lindas, que seguram minha onda, me fazem ter a certeza que faz algum sentido eu estar aqui. Aqui as emoções são super radicais, exageradas. Pela manhã você pode se sentir a pessoa mais sortuda e feliz do mundo e pela noite estar no fundo do poço, se achando a pessoa mais idiota. O mesmo acontece com as relações afetivas. É carinho, é desgosto, é paixão, é ciúme, é amor, é ódio. E ainda tem a vontade de vomitar certos sentimentos…de dependência (da faculdade, das pessoas), de intolerância, de choque com o diferente. O mecanismo de sobrevivência aqui nesse intercâmbio é louco. Ao mesmo tempo que impera o ‘’cada um por si’’ existe um bizarro ‘’um por todos e todos por um’’.

O Paraguay é o único país da América do Sul bilingue. Além do espanhol, seu idioma oficial, existe o Guarani, idioma nativo indígena que perdura até os tempos de hoje, apesar de todos os pesares. A colonização espanhola, que impôs o castelliano como idioma, somada aos vários anos de ditadura militar, que proibia o Guarani por temer conspirações contra o governo, enfraqueceu a proliferação da língua em todo o país. Contudo, o Guarani permaneceu sendo ensinado de geração para geração mesclado com o castelhano, em uma nova forma lingüística chamada ‘’Jopará’’. Guarani é complicadíssimo. Seu alfabeto conta com vocais orais, vocais nasais e várias consoantes duplas; como ‘’nd’’. O meu professor de Guarani, Daniel, diz que eu aprendo rápido, que se eu realmente quisesse falar, em dois ou três anos estaria fluente. A didática inclui guaranias (músicas populares cantadas em guarani) e poesias. O meu objetivo fica longe da fluência. A curiosidade é o motivo que guia as minhas aulas. A fonética estranha do Guarani gera uma aula de caretas, entorta-boca, grunhidos e gemidos. É difícil, mas vale a pena. E é engraçado quando descubro que tem alguma relação com algumas coisas em português. Por exemplo,a música ‘’sapo Kururu na beira do rio’’. Kururu é sapo em Guarani. Assim…’’Sapo sapo na beira do rio’’. Que música mais boba!

Outro post curtinho. Eu sei. Melhor que nada...

Um comentário:

Nina Senra disse...

Luca, é "sapo Sapo na beira do rio".
O nome do sapo é Sapo, que nem a nossa gata Gata Má.
:)