sábado, 15 de agosto de 2009

Paraguay Parte IV ''boquiabertas com tudo''

A distância entre a minha casa e a faculdade é de vinte e duas quadras. A primeira vez que fiz essa contagem, no mapa, fiquei meio assustada, desanimada de fazer o percurso andando. A idéia de ir a pé veio da necessidade básica de fazer o dinheiro render, visto que a bolsa que ganho aqui é miserável, deprimente. Confesso que depois da primeira vez, que é sempre muito delicada, depois fica bem fácil fazer de novo e de novo. O caminho é bem residencial, com casas de muro baixinho, bem fáceis de assaltar e cachorros deitados nas soleiras. Toda casa que se preze merece um cachorro. Assim, quase todas as casas tem um ou dois exemplares, que me acompanham com o olhar enquanto eu passo. Além de casas, tem alguns butecos e mercadinhos. O meu favorito fica bem no início do percurso porque ao invés de ter um cachorro na entrada, tem um gatinho-vaquinha muito simpático, que deixa eu fazer carinho e matar um pouquinho de saudades dos meus felinos em BH. Na pensão não tem cachorro, muito menos gato. Tem duas tartarugas sem sal, que eu só me recordo que existem quando aparecem no meio do meu caminho, dois periquitos, que só querem saber de namorar e dois papagaios. Os papagaios moram bem na frente da minha janela, e gritam loucamente umas nove horas da manhã. Eles não falam espanhol, nem guarani, o que me leva a acreditar que eles são analfabetos. Apesar disso, eles são legais. Sempre coloco um pedaço de maçã pra ver eles brigando entre si por causa da fruta. Um pega, depois o outro rouba, depois o outro fica puto e pega de novo, e assim por diante. É legal ter eles em casa, apesar de serem bem menos interessantes que os meus felinos, que falam, brigam, assistem TV, fazem graça,ficam de mau, etc, etc, etc. Ê saudade!

Numa festa semana passada eu conheci um paraguayo muito bacana que trabalha com hiphop. Ele faz produção de eventos, canta, dança e ensina, tudo relacionado com o mundo da black music (apesar dele ser branco. Não existem negros no país). O cara tem um projeto muito doido, de ensinar hiphop pra crianças deficientes mentais, além de patrocinar oficinas pra jovens carentes. Fui convidada a conhecer um projeto que tava rolando, de duelo de break dance, no centro da cidade, domingão a tarde. Assumo que acordei super preguiçosa, de ressaca, e mal lembrava do convite. Falei com a Babita do programa esperando ouvir um ‘’ah que preguiça’’ que legitimasse a minha falta de disposição e me surpreendi com um ‘’legal, vamos aprontar e ir então’’. Ok. Chegamos no clube e entrei cheia de preconceitozinhos, esteriótipos de que era um ambiente ‘’barra pesada’’, escuro, submundo do mau. Felizmente, me enganei por completo. O pessoal era super tranquilo, puxaram papo comigo, ofereceram bebida, convidaram para dançar. Quando chegamos estava terminando uma apresentação de rap de improviso no palco, muito legal. Aí começaram os duelos de break. Os meninos eram sensacionais, super desenvoltos, davam piruetas, saltos, rodavam no chão, dançavam super bem. E além disso, eram super gracinhas uns com os outros: abraçavam antes de duelar,desejavam sorte e depois ficavam fingindo que se odiavam, pra dar aquele clima de duelo. Eu e Babita ficamos boquiabertas com tudo, amando cada movimento da rapaziada. Quando não estávamos paralisada, vidradas com as apresentações, tirávamos fotos e filmávamos, numa tentativa desesperada de dividir e distribuir aquilo com outras pessoas. Nesse mesmo dia do break, a noite, fomos conferir uma peça de teatro: ‘’Galileo Galilei``. O atores eram bons,os figurinos eram excelentes e a história fluia, sem muitos nós que fizessem o enredo ficar arrastado. O incrível do teatro é como os personagens falam bem. É óbvio, eu sei, que uma das características principais das artes cênicas é a fala pausada e clara, em alto e bom som. Contudo, quando você está aprendendo uma outra língua, isso fica ainda mais evidente. Pensando nisso, eu listei mentalmente quais pessoas são mais fáceis de compreender em casteliano. Primeiro vem os personagens, teatro na frente depois o pessoal da TV. Aí vem os professores, que tem uma dicção excelente. Crianças são as próximas. Não por terem uma fala limpa, mas por falarem coisas pouco complexas, meio bobas, que são bem simples de entender. O resto da população empata agora, exceto pelos adolescentes (como meu ‘’irmão`` Rodrigo, aquele que me bate) e por alguns universitários. Todos falam muito rápido, cheios de gírias, puxando um R que não existe e engolindo palavras. Aí fica impossível traduzir. Fica pra eles o troféu ‘’Han?!?``. Seguindo a onda de listar coisas, aproveito para fazer um panorama financeiro de quanto custam as coisas em Asunción, fazendo um comparativo com Belo Horizonte (Covivendo com as meninas de outros lugares tô descobrindo que BH é muito careira). Na lista das coisas mais baratas temos : aparelhos celulares, máquinas fotográficas, xerox, passagem de ônibus, entradas de baladas, roupas e sapatos (a maioria), tratamentos de beleza, batata Pringles, Iogurte,McDonalds, cinema, refrigerante, cachaça, remédios, tênis, cantadas (hehehe). Na lista de coisas com o mesmo preço temos os cigarros, as bebidas e petiscos em bares e baladas, CDS, material de papelaria, taxi. Agora os mais caros: chocolate, sorvete, livros, frutas, verduras, legumes. Pronto! Taí um manual básico de preços. Como podemos observar, aqui é mais barato que BH. Entretanto, os itens mais caros são os que eu mais consumo, então acaba que nem fica tão mais barato assim.

Esse final de semana não deu pra sair. Na quinta-feira eu sofri um pequeno acidente, devido a minha natural total falta de equilíbrio, e levei um super capote. Ralei os dois joelhos, machuquei meu tornozelo e tô com a perna super inchada e dolorida. No dia eu não dei muita bola pra tudo isso e fui bailar salsa num bar super bacana, com banda e tudo mais. Depois da salsa, como não tinha ônibus pra voltar pra casa naquele horário, fomos pra uma outra balada ali perto, que tocava reggaeton (como qualquer lugar) mas também muita música boa e, inclusive, tocou Los Hermanos e Mamonas Assassinas, que só a gente soube cantar! Enfim, quando pegamos o ônibus era cinco da matina e minha perna começou a apitar, doer muitão. Quando desci do coletivo, mal conseguia andar e ao chegar em casa percebi o quanto a situação tinha piorado. Agora eu tô me castigando de propósito, pra ver se eu fico boa logo e volto pra vida bandida.

3 comentários:

Unknown disse...

vida bandida... vc não tem jeito mesmo! tô com uma saudade imensa, mas com o consolo de que tá tudo bem (vai me dando notícias da perna). a cleo tá aqui deitada na minha frente enquanto te escrevo. tenho certeza que ela sente sua falta. vc faz muita falta mesmo querida. qdo chego de Congonhas e vc não está me dá um aperto. bom que o david está aqui nesses dias e ficamos muito juntos, então não fico tão carente. te amo minha filhota. minha lulu. muitos beijos.

Rodrigo Azeredo disse...

Lu, tá boa pra juntar com a Mana, que vive caindo... espero que esteja melhor. Nos vemos em breve. Bjos, Rodrigo.

Anna Luiza disse...

é claro
mas é claaaaaaaaaaro que vc ja caiu, luca!
tinha tanta coisa pra comentar
mas esse pequeno fato tomou conta de tudo hahahahahaha